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quarta-feira, 30 de novembro de 2016

"Que não se muda já como soía."


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem (se algum houve), as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E,em mim,converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto,
Que não se muda já como soía.


Luís Vaz de Camões
1524?-1580)

Estou doente e de baixa há dez dias. Tenho melhorado lentamentee, demasiado lentamente para o que era costume. É a velhice: Que não se muda já como soía.
Este poema de Camões está perfeitamente actual, apesar das estações já não serem tão distintas como eram nas zonas temperadas, as mudanças estão a ser tão rápidas que me assustam.

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